GLOBALIZAÇÃO
*Joel Pires
Para Milton Santos, o maior geógrafo brasileiro, a globalização é o projeto do capitalismo em nível mundial. O autor destaca o lado perverso desse sistema de dominação, ou seja, um modelo hegemônico construído com base na lógica do lucro, da mais valia em escala global. Nesse projeto, os atores hegemônicos – pessoas, empresas, governos – rompem com a ética, com a solidariedade em nome do capitalismo triunfante.
Alguns mitos são derrubados em sua obra “Por uma outra globalização”. Entre eles, o de aldeia global, distorção conceitual em torno do encurtamento das distâncias provocado pelos meios de comunicação como a internet. Ora, nos comunicamos em tempo real com o mundo, mas não conhecemos nosso vizinho, mal damos bom dia. Nesse sentido, Milton Santos desmascara a realidade e expõe as mazelas de uma política perigosamente perpetrada pelas grandes potências. Graças à intervenção desse intelectual, é possível o esclarecimento e a reflexão sobre questões importantes e atuais, como a exclusão.
Sob a ótica do premiado professor, o consumo virou ideologia de vida, resultado dessa “integração econômica, social, cultural e política”, camuflada de “aldeia”. Mas aldeia é outra coisa, e é bom resgatarmos o sentido real dos termos, evitando as distorções. Quando os europeus chegaram aqui, já havia um povo, com sua cultura, economia, valores e tradições. O que aconteceu depois, nós sabemos: o massacre em todos os sentidos, a colonização. Colonização, meus amigos, é exploração. Nossas riquezas foram usurpadas num processo de evasão que durou séculos. E que ainda não acabou, pois a dominação persiste sob novos rótulos, entre eles a globalização.
Nesse contexto, o autor adverte sobre o mau uso dos meios de comunicação e alerta os profissionais da mídia. A publicidade pode ter um papel nefasto, assim como a manipulação da notícia, que chega maquiada ao ouvinte, telespectador, leitor. Em nome do capital, vendem a consciência. Não interessa se o produto é inadequado, se é fruto do trabalho infantil: o importante é vender. Isso porque, na sociedade atual, o cidadão é suplantado pelo consumidor. O desrespeito é geral e banalizado. Pessoas são enganadas e nem ligam mais, ou não tem tempo, nem disposição moral. O lema é: a embalagem deve ser bonita, pouco importa o conteúdo.
Por Joel Pires - professor, psicopedagogo e colaborador do Jornal de Sobradinho
2 comentários
Excelente texto. Me deixou muito curioso pra ler o livro.
Valeu Alex. Abraço! O livro é um clássico desse pensador brasileiro de grande projeção internacional.
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