ARTIGO: Eficiência do Agachamento: afundo ou 90 graus?
(*) Prof. Charles Magalhães
Inúmero
estudo vem sendo realizados há décadas a respeito do agachamento, afinal,
sabe-se que quem não agacha não otimiza o desenvolvimento nem das coxas, muito
menos do restante do corpo. Mas porque isso? Simplesmente pelo fato da
musculatura da coxa, seja anterior e posterior, serem os maiores músculos que
acompanham o maior osso do corpo humano, o fêmur e ao serem solicitados,
liberam as maiores “cargas hormonais” de testosterona durante e após o treino,
bem como de hormônio do crescimento durante o sono. Poderia citar diversas
referências bibliográficas, a fim de melhor fundamentar tal assertiva, mas o
faço em nosso site HYPERLINK "http://www.topbodyacademia.com.br"
www.topbodyacademia.com.br, dada a enorme gama de autores que trata do tema.
A old school,
escola antiga de fisiculturistas, treinadores, práticos e curiosos a respeito
do treinamento resistido (musculação) começou os estudos a respeito da maneira
correta, ângulo correto, solicitação das articulações, lesões no joelho, entre
outras, a fim de desmistificar a questão da amplitude correta durante a
realização do agachamento livre. Pois bem, na década de 60 iniciavam-se os
estudos com atletas de basquete, futebol, mas hoje já foi considerada
ultrapassada a assertiva da época de que seria sobrecarregar demais os joelhos
o agachamento completo, por serem demasiados antigos tanto os recursos quanto à
metodologia utilizados. Esses mesmos estudos apontavam para uma análise da
capacidade contrátil das fibras sem levar em conta a relação com o comprimento
e a seção transversa do músculo, um aspecto que só começou a ser levado em
conta a partir da publicação do estudo de Zheng, em 1998 (Zheng et al., 1998).
Em tese, os autores da época subestimavam a força aplicada pelo músculo e
superestimavam a tensão aplicada às estruturas articulares.
Não restam
dúvidas de que a utilização de maiores amplitudes aumenta a intensidade do
movimento, o que resulta num maior recrutamento de unidades motoras, obtendo
maiores ganhos de força e massa muscular (Gentil 2011). Por exemplo, um estudo
de Weiss et al. (2000) comparou os ganhos de força de homens jovens treinando
com agachamentos e leg press realizados com amplitude completa ou só até 90
graus e verificaram que os melhores resultados foram obtidos pelos que realizavam
seus treinos com amplitude máxima.
Grande parte
dos estudos, sejam os já citados realizados pela old school, sejam alguns
outros questionáveis realizados por uma corrente que recomenda limitar o
movimento, referem-se ao “agachamento paralelo” que é realizado com as coxas
paralelas ao solo, o que gera amplitudes maiores que 90 graus de flexão dos
joelhos. Segundo alguns estudos, parar em 90 graus seria interromper um
movimento que naturalmente te obrigaria a ir até o final, e tal interrupção
seria considerada um erro durante a execução do agachamento, sendo considerado
o momento mais arriscado e de maior tensão articular dos joelhos (Fairchild et
al., 1993).
Como já
frisamos, a assertiva de que o agachamento profundo seria lesivo aos joelhos
foi baseada em análises da década de 1960, que levaram militares americanos
terem que suspender alguns exercícios que sobrecarregavam os joelhos, como os
famosos cangurus. Isso ocorria muito na Brigada Paraquedista do Exército
Brasileiro na década de 80 e 90. Além das sobrecargas na quantidade de
exercícios repetitivos em terra, assim como as aterrissagens dos para- quedas
antigos fizeram com que isso ficasse “rotulado” por muitos e até hoje esse
paradigma tem demorado a ser quebrado.
Mas o que
acontece anatomicamente depois dos 90 graus? A partir dessa amplitude, os
músculos posteriores da coxa, principalmente os isquiotibiais, são fortemente
ativados ajudando a neutralizar a tensão exercida sobre a patela. A ação da
musculatura lombar também se torna maior que antes. A ação desses músculos posteriores geraria,
segundo os autores, uma força vetorial direcionada para trás, que contribuiria
para estabilizar os joelhos durante o movimento (Isear et al., 1997), fazendo
com que a tensão na patela seja reduzida em cerca de 50% (Shelburne &
Pandy, 1998; Li et al., 1999). A participação dos músculos posteriores é maior
quanto maior for a amplitude do movimento (Caterisano et al., 2002), e também
sofre influência da carga utilizada (Shields et al., 2005), portanto, será maior
com cargas altas e amplitudes completas.
E como se comporta a articulação dos joelhos antes dos 90 graus? Numa carga constante, maiores forças de translação anterior, lateral e rotação interna da tíbia ocorrem nos ângulos de 30 a 60 graus, sendo menores quanto maior a amplitude do movimento (Li et al., 1999). No estudo de Escamilla et al. (2001) constatou-se aumento das forças compressivas tibiofemorais e patelofemorais até se chegar a um ângulo de aproximadamente 80-90 graus, sendo que essas forças caem à medida que a amplitude aumenta. Anteriormente, Zheng et al. (1998) e Wilk et al. (Wilk et al., 1996) também haviam verificado que as maiores forças compressivas tibiofemorais no agachamento ocorrem justamente próximas ao ângulo de 90 graus, o que fez cair por terra as demais conclusões.
Hoje em dia,
existe uma corrente de profissionais de educação física e fisioterapeutas que,
desculpe-me a sinceridade, por não se atualizarem, acha que trabalhar
quadríceps com o objetivo de reabilitação das articulações dos joelhos na mesa
extensora seria melhor que prescrever agachamentos. Wilk et al. (1996) em seus
estudos não encontraram diferenças nas forças compressivas entre os exercícios,
além de verificarem que o agachamento e o leg press não produzem forças
anteriores, ao contrário da cadeira extensora, pode sobrecarregar os joelhos.
Mas o que
dizer das lesões nas articulações dos joelhos, calcanhar, do recrutamento da
musculatura posterior das coxas e possíveis lesões na coluna ou na musculatura
lombar? Quanto aos ligamentos
cruzados anteriores, posteriores, patela, bem como analisando a compressão
entre o fêmur e a tíbia, os estudos mostram que a capacidade dessas
articulações de suportar as cargas a elas aplicadas é muito maior do que a
força da musculatura em realizar os movimentos. A título de exemplo, Race &
Amis, 1994 comprovaram que realizar agachamentos profundos com mais de 380
quilos, não se chega nem a 50% da capacidade de suportar tensão que possui o
ligamento cruzado posterior. O mesmo ocorre com as forças compressivas
tibiofemorais que chegam próximas a 8000 N durante o agachamento com cargas
elevadas (250 a 382,50 kg), sendo praticamente a mesma nos ângulos entre 60 a
130 de flexão de joelhos (Nisell & Ekholm, 1986).
Por fim, a
ciência da Educação Física não é uma ciência exata como a matemática, razão
pela qual deixo patente o meu respeito pelas correntes de estudiosos que
defendem posição diferente da nossa. O que importa é que é de fundamental
importância atentar para a técnica do movimento, buscando ao máximo realiza-lo
preservando a posição correta em relação à coluna vertebral e não deixando a
linha dos joelhos adiantar-se em relação à ponta dos pés. Antes de iniciar as
seções de agachamento, trabalhe um período procurando fortalecer as musculaturas
estabilizadoras da coluna (abdômen, transverso, paravertebrais), pois elas são
fundamentais para a execução do exercício.
(*) CHARLES DE
MAGALHÃES ARAUJO JUNIOR - PROF. CREF 08912 G/ DF
Presidente e
Diretor Técnico do Grupo Top Body
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