MEIO AMBIENTE / Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros
Apesar do verde, regeneração completa da Chapada
pode levar até uma década
A vegetação de campo, rasteira, é que se recupera
com mais rapidez, mas a vegetação mais sensível, das veredas e das matas de
galeria demoram mais
(*) Renato Alves
Os brasilienses Samuel de Lucas e Renes
Costa tiveram uma grata surpresa ao visitar o Vale da Lua
Nem tudo são flores e fartura. Os incêndios de
outubro têm consequências graves. Tanto que ainda não é possível precisar o
tamanho do estrago na biodiversidade do Parque Nacional da Chapada dos
Veadeiros. O certo é que muitos animais e plantas morreram. Espécies podem ter
sido extintas na unidade de conservação. O levantamento dos prejuízos começou,
mas pode demorar meses ou anos para ser concluído. A regeneração completa da
flora pode levar até uma década.
A vegetação de campo, rasteira, é que se recupera
com mais rapidez. A vegetação mais sensível é a das veredas e das matas de
galeria, onde nascem e passam os córregos, ribeirões e rios. A recuperação
dessas áreas depende das chuvas e de novas sementes. “A nossa preocupação maior
é com os solos de turfa: são locais com muita matéria orgânica, como as raízes
das plantas e micro-organismos e com muita capacidade de armazenar água,
inclusive na seca. A gente diz que é a caixa d’água da Chapada. Vimos fumaça
desses locais até oito dias depois do fim do fogo”, conta o diretor da reserva,
Fernando Tatagiba.
O parque é a maior unidade de conservação de
cerrado do mundo. Considerado Patrimônio Mundial pela Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), abriga três aquíferos:
o Guarani, o Urucuia e o Bambuí. No cerrado ficam as nascentes de seis das oito
bacias hidrográficas brasileiras: Araguaia, Tocantins, Atlântico Norte,
Nordeste, Bacia do Parnaíba, São Francisco, Atlântico Leste, Bacia do Rio Paraná.
O parque da Chapada tem centenas de nascentes, cursos d’água e rochas com mais
de um bilhão de anos. Ele abriga espécies ameaçadas de extinção ou endêmicas
(que só existem no local), como o cervo-do-Pantanal, lobo-guará, pato-mergulhão
e a onça-pintada, maior mamífero carnívoro da América do Sul.
Chuvas
em Cavalcante enchem mananciais, como o conjunto de cachoeiras vizinho à
Pousada Veredas
Menos
dinheiro
Em 2016, mais de 60 mil turistas visitaram o Parque
Nacional da Chapada dos Veadeiros para conhecer suas belezas. O comércio na
região movimentou mais de R$ 70 milhões. Mas os números devem ficar aquém em
2017, por causa dos incêndios. Pousadas tiveram 80% menos hóspedes nos fins de
semana de outubro e nos três mais recentes feriados prolongados— Nossa Senhora
Aparecida (12 de outubro), Finados (2 de novembro) e Proclamação da República
(15).
O empresário Fernando Couto ressalta que as perdas
do turismo refletem em toda a região da Chapada dos Veadeiros, em especial em
Alto Paraíso. O setor responde por 80% do Produto Interno Bruto (PIB) do
município de pouco mais de 7 mil habitantes, que depende do repasse anual de R$
20 milhões do Governo Federal para se manter. “Com 250 mil visitantes por ano,
o turismo emprega 1,5 mil pessoas diretamente e rende R$ 100 milhões para Alto
Paraíso, cinco vezes mais do que o repasse federal”, destaca Couto,
ex-secretário de Turismo do município e dono de um restaurante no centro de
Alto Paraíso e da Cachoeira dos Cristais, complexo com sete quedas d’água,
restaurante, bar, espaço para festa e área para campismo. “Só eu emprego 51
pessoas”, completa.
Couto diz que, no feriado de Finados de 2016, a
maioria das 80 pousadas, dos 15 campings e 13 hostels de Alto Paraíso registrou
100% de ocupação. “Este ano, por causa do incêndio, teve estabelecimento que
não recebeu hóspede”, conta. No bar do Vale da Lua, toda a bebida comprada para
atender os visitantes de Finados serviu para a demanda daquele feriado e de
todos os dias seguintes, até ontem, segundo Robson Noberto da Silva, um dos
responsáveis pela propriedade. “A gente teve uma queda de 70% em Finados e na
Proclamação da República. Agora, apostamos no réveillon”, observa ele. A
atração, que cobra R$ 20 pelo acesso, costuma receber até 300 pessoas em um dia
de feriado ou fim de semana.
Visitação
·
O Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros abre de
terça-feira a domingo. Em janeiro e julho, fica aberto todos os dias, por se
tratar de férias escolares. Os visitantes têm das 8h às 12h para entrar na
reserva, e devem sair até as 18h. A entrada é gratuita e não há obrigatoriedade
da companhia de um guia.
·
A visitação é limitada de acordo com a capacidade
das trilhas. A Trilha dos Saltos pode receber até 250 visitantes por dia. A
Trilha dos Cânions, 200. Já para a Trilha da Seriema, são permitidas só 30
pessoas por dia. Na Travessia das Sete Quedas são liberados até 20 visitantes
acampados durante a noite.
Memória
Fogo após ampliação
O maior incêndio do Parque Nacional da Chapada dos
Veadeiros começou em 17 de outubro e terminou em 2 de novembro. Ele queimou 66
mil hectares, o equivalente a 28% da área total da unidade de conservação, que
ocupa 240 mil hectares. Mas o estrago foi bem maior. Somados os outros quatro
incêndios iniciados e apagados desde 10 de outubro, foram queimados cerca de 75
mil hectares. Em todo o ano, o fogo consumiu 82 mil hectares, mais do que toda
a área antiga da reserva, que era 65 mil. O tamanho foi ampliado por meio de
portaria assinada pelo presidente da República, Michel Temer, em julho. O
balanço, no entanto, não leva em conta a área queimada fora do Parque Nacional.
Fazendas e reservas particulares também sofreram com uma série de incêndios, em
outubro. O Vale da Lua, um dos mais famosos atrativos turísticos da região, foi
o mais atingido. O fogo chegou a uma pousada vizinha, onde queimou um bangalô.
Os paulistas Thais e Guilherme passaram
uma semana na região
Lugar sagrado
O Jardim de
Maytrea é um lugar considerado sagrado para os praticantes de diversas
correntes de misticismo. Muitos acreditam haver um campo de força magnética no
local. Maitreya ou Maitria é como é designado o renovador do budismo, o próximo
Buda, que reiniciará o atual ciclo iniciado por Sidarta Gautama, quando os
ensinamentos deste tiverem sido esquecidos neste mundo. Muitos cálculos têm
sido apresentados para quando este renovador do budismo deverá renascer: por
exemplo, daqui a 30 mil anos.
Fonte: Renato Alves / Correio Braziliense
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