SOBRADINHO
Homem é enterrado como
indigente por engano, em Sobradinho
Em vão, irmã percorreu
1,6 mil quilômetros para se despedir do homem, vítima de atropelamento
(*) Marina Cardozo
Um engano
fez com que uma vítima de atropelamento fosse enterrada como indigente no
Cemitério de Sobradinho. Os parentes de Domingos Alves de Moraes, 58 anos,
denunciam que o corpo foi sepultado antes do horário previsto, na ausência dos
familiares. O procedimento, providenciado pelo Serviço Social do governo,
ocorreu na tarde da última sexta-feira (11). O Cemitério Campo da Esperança e o
governo repassam a responsabilidade um ao outro.
Segundo o
vigilante Luís Cleiton Rodrigues, um dos familiares da vítima, Domingos era
andarilho. “Minha mulher e eu, que moramos em Sobradinho, nem sabíamos que ele
estava no Distrito Federal. Só tivemos conhecimento da morte quando o Jornal de
Brasília publicou uma nota sobre o corpo que estava no Instituto Médico Legal à
espera da família”, relatou. A partir de então, eles afirmam que passaram a
manter contato com o Instituto Médico Legal (IML), para acompanhar os trâmites
do enterro.
Ao ter
ciência do óbito, e após muito tempo sem notícias de Domingos, uma das irmãs
dele, de 77 anos, percorreu mais de 1,6 mil quilômetros, do Piauí a Brasília.
Ela tentou, em vão, se despedir do homem.
“Estava tudo
combinado. Avisaram data e horário. Pediram para chegarmos às 15h, pois o
enterro seria às 16h. Chegamos às 14h30 e já tinham enterrado sem a presença de
nenhum familiar. Isso nos causou muita tristeza”, lamenta o vigilante. Os
parentes, agora, querem saber o porquê e o responsável pelo transtorno.
O acidente
Domingos
Alves de Moraes morreu após ser atropelado na DF-425. O acidente ocorreu em 7 de abril deste ano, em Sobradinho, em
frente ao Condomínio Fraternidade. O local é próximo à casa de Luís, que é
casado com uma sobrinha da vítima. Mal sabiam eles da tragédia.
O motorista
que atropelou Domingos estava embriagado. A constatação foi registrada em
boletim de ocorrência na 13ª Delegacia de Polícia (Sobradinho).
No momento
do acidente, a vítima foi socorrida pelo Corpo de Bombeiros e encaminhada ao
Hospital Regional de Sobradinho. Ele estava com suspeita de traumatismo
craniano, fratura na costela e ferimentos no braço direito e na perna esquerda.
Domingos morreu no hospital.
Em 24 de abril,
o Jornal de Brasília divulgou que a Polícia Civil buscava a família do homem. O
corpo encontrava-se no Instituto Médico Legal (IML) desde 14 de abril e não
havia sido reclamado até então. Por isso, após 15 dias do falecimento, o
cadáver seria sepultado pelo serviço social do GDF.
A publicação
do JBr. chegou até Oeiras (PI), terra natal de Domingos e onde vive a irmã
dele. Assim começou a saga da família pela despedida digna do homem.
Envolvidos
Procurada
pelo Jornal de Brasília, a empresa Campo da Esperança admitiu que o horário do
sepultamento foi antecipado. “Os responsáveis do GDF informaram à equipe da
Campo da Esperança que ele não possuía família”, declara a instituição, por
meio de nota da assessoria de imprensa.
De acordo
com a empresa, o corpo chegou à unidade de Sobradinho por volta das 13h30. A
Campo da Esperança lamenta o ocorrido e reforça que o governo é responsável
pelos corpos e por solicitar a um cartório de registro civil a emissão das
guias de sepultamento gratuitos.
A reportagem
procurou também a pasta responsável pelo serviço, a Secretaria do Trabalho,
Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos
(Sedestmidh). Por telefone, a assessoria de imprensa da pasta atribuiu o erro
ao IML.
A Sedestmidh
“informa que oferta o Benefício Eventual Social por Morte aos cidadãos e às
suas famílias que não têm condições de arcar por conta própria com o
enfrentamento da situação. Para solicitar o benefício, o cidadão deve procurar
as unidades da Assistência Social mais próxima da sua residência. Esse
benefício é concedido de duas formas, conforme opção da família: por uma
parcela única de R$ 415, ou a pasta realiza o sepultamento garantindo as
despesas das taxas e da urna funerária. A oferta também pode ocorrer por meio
do encaminhamento do IML ou do sistema de Justiça, quando a pessoa não tem
identificação (indigente)”, diz a nota.
O Instituto
Médico Legal (IML), por sua vez, explicou o que ocorreu a partir do momento em
que a família entrou em contato. Segundo as informações da polícia, naquele
momento os trâmites legais já haviam sido efetuados, com a lavratura da
certidão de óbito, por haver expirado o prazo legal de 15 dias para a
manifestação de familiares.
O IML relatou
que a família concordou que fosse mantido o sepultamento social, pois não
poderia arcar com as despesas. “Foram
realizados todos os procedimentos legais e informado aos familiares que os
trâmites para sepultamento não são de competência do IML/PCDF. Portanto,
deveriam ser tratados diretamente com o Necrópoles e o cemitério local”, diz a
nota enviada ao JBr. pela Divisão de Comunicação da Polícia Civil.
“Ratificamos
que todos os procedimentos legais de responsabilidade deste Instituto foram
realizados com zelo e presteza”, conclui o texto.
(*)Fonte: Marina Cardozo - marina.cardozo@grupojbr.com
- Foto: Arquivo pessoal
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