SAÚDE / AGLOMERAÇÃO / AVANÇO DA VARIANTE ÔMICRON...
Evolução da Ômicron provoca mudanças na programação de grandes eventos
Pandemia não acabou, e momento é de restrição, alertam especialistas
O avanço da
variante Ômicron mexeu com a programação de grandes eventos no início deste ano
no país. Um exemplo é o festival de música Universo Spanta, na Marina da
Glória, zona sul do Rio, que teve adiadas as apresentações de hoje (7) até
domingo (9), e ainda não remarcou as datas. Músicos da banda de Lulu Santos,
que fariam ontem show com o cantor e compositor, e hoje com a cantora Duda
Beat, foram diagnosticados com covid-19.
Em mensagem
publicada no Instagram, os músicos comunicaram que as outras atividades do
calendário estão mantidas e que o cenário da pandemia ao longo dos próximos
dias continuará sendo acompanhado junto aos órgãos de saúde.
A
programação prevê apresentações em todos os fins de semana de janeiro e tem
encerramento marcado para o dia 30. Os organizadores do festival disseram que
esperam conseguir manter a agenda. “Temos esperança de realizar um festival
lindo e de nos reencontrarmos a partir do dia 14”, afirmaram os artistas,
informando que pretendem retomar o evento na próxima sexta-feira.
Até mesmo
eventos que começarão apenas em março requerem cuidados e planejamento
especiais. O produtor do Tim Music Verão, Rafaello Ramundo, previsto para os
dias 12 e 13 e 19 e 20 de março, na Praia de Ipanema, disse que o trabalho da
equipe é sempre antecipado e que o cenário atual vem sendo acompanhado. Ele
adiantou que está sendo trabalhada inclusive a possibilidade de datas mais para
a frente, caso seja necessário adiar as apresentações. “Por prudência, já
estamos montando um plano de contingência para levar o evento um pouco mais
para a frente.” Segundo o produtor, o evento inclui extensa lista de artistas e
equipes e há risco de as pessoas estarem contaminadas quando o evento ocorrer.
Ramundo
disse que é muito forte o impacto de não realizar um grande evento que já foi
preparado, mas ressaltou que a responsabilidade vem na mesma medida e não pode
ser comprometida por conta de imprudência da produção. “Se chegar a um ponto em
que realmente é impossível fazer, aí, mesmo com todo o prejuízo que isso possa
causar, porque eventos como o Tim Music Verão geram muito emprego – quase 3 mil
entre diretos e indiretos --, se a pandemia for do tamanho que está se
desenhando, a gente dá um freio”, afirmou o produtor à Agência Brasil.
Outro evento
com presença de público produzido por Ramundo é o Festival Invasão Cultural,
com apresentações musicais que antecedem os jogos do basquete do Flamengo, no
Maracanãzinho, zona norte do Rio. Neste caso, a opção foi reduzir o número de
pessoas no local com a exigência de protocolos sanitários e a transmissão dos
shows pela internet. “Estamos lançando uma série de artistas no projeto Invasão
Cultural, que fala para um público mínimo no Maracanãzinho, mas isso é
replicado na internet para as pessoas. É a vida que estamos vivendo hoje”,
enfatizou.
Planejamento
Grandes
eventos precisam ser organizados com extenso planejamento antecipado. A
preparação do Universo Spanta, por exemplo, envolveu centenas de pessoas
durante dois anos para definir os
detalhes e a lista com mais de 100 atrações. Nesse período, veio a covid-19, e
o cenário mudou.
Antes do
surgimento da Ômicron, tudo parecia estar caminhando para a normalidade. As
famílias se reuniram no Natal e, mesmo com restrições, se comparado a outros
anos, houve a queima de fogos em vários pontos do Rio e comemorações em outras
cidades do país no réveillon.
Os eventos
culturais e de turismo do Brasil estão entre os segmentos mais atingidos pela
pandemia. Dados da Associação Brasileira de Promotores de Eventos (Abrape)
indicam que as perdas do setor no auge da pandemia chegaram a 93%. O ambiente
que se mostrava mais favorável nos últimos meses de 2021, reforçado pelo avanço
da vacinação e a consequente redução de casos e de óbitos da doença, animou os
promotores e grandes eventos começaram a ser programados.
Agora, com a
multiplicação da variante Ômicron, a realização desses eventos passou a ser
motivo de preocupação. Salvador, Recife e Olinda já cancelaram a programação de
carnaval. No Rio, a prefeitura cancelou os desfiles de blocos de rua e espera
resposta das agremiações à proposta de apresentações em lugares onde o controle
do público pode ser feito, como o Parque Madureira, na zona norte, e o Parque
Olímpico, na zona oeste.
Para as
escolas de samba, pelo menos até agora, os desfiles estão mantidos no
Sambódromo da Sapucaí com exigências do comprovante de vacinação em dia e
testagem para covid-19 antes do espetáculo.
Especialistas
Rock in
Rio Music Festival in Rio de Janeiro
Para
especialistas, no entanto, o avanço da Ômicron no país recomenda cautela, e o
melhor seria o cancelamento total de grandes espetáculos e festejos como os de
carnaval. Embora reconheça que tais eventos foram programados em outro cenário
da pandemia, a vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm),
Isabella Ballalai, afirmou que, diante do que já se verificou em países do
Hemisfério Norte, onde a variante se espalhou em grandes proporções, o momento
é de retroceder. “É preciso que a população entenda que mudou. Não podemos mais
relaxar de maneira nenhuma”, disse Isabella à Agência Brasil.
A médica
destacou ainda o impacto nas mais diversas atividades, quando aumenta o número
de casos. “Felizmente não teremos um número de mortes como tivemos nas últimas
ondas, mas teremos tantos casos que a economia ficará prejudicada por causa do
absenteísmo”, afirmou Isabella, que
citou como
exemplo os inúmeros voos cancelados por causa da contaminação das equipes de
tripulantes.
“Não
queremos parar a economia, não queremos fechar as escolas de maneira nenhuma.
As escolas não podem ser fechadas, mas precisamos da ajuda da população. É
preciso entender esse recado, porque, senão, não tem como controlar. Não tem
autoridade que consiga controlar”, afirmou.
O
primeiro-secretário da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato
Kfouri, concorda que o momento é de restrições. “Do jeito que flexibilizamos
todos, e com a nova onda chegando, a maior de todas, temos que voltar atrás,
retroagir com o público no carnaval, nos estádios de futebol, nos cruzeiros.
Agora é momento de restrições. Muita gente, equivocadamente, usava como
critérios o número de vacinados para flexibilização. O relaxamento deve ser
dado pelas taxas de transmissão.”, explicou.
Quando há
muita gente em circulação, é preciso restringir mais, com poucos circulando,
libera-se mais, disse o infectologista. “A conta é essa. O momento agora, é
voltar para trás. Limitar a frequência”, recomendou Kfouri, reforçando que a
limitação se daria até baixarem as taxas de transmissão da Ômicron.
A médica
Sylvia Lemos, que é consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) em
Pernambuco, teme que o quadro se agrave no carnaval, quando aumenta a
circulação de pessoas nas cidades e chegam turistas de outros países. Além
disso, há o caso de pessoas já vacinadas
que participaram de festas privadas no fim do ano e agora estão com a doença.
Ainda assim, disse a médica, é preciso avaliar a evolução, porque como tem sido
demonstrado desde o início, o comportamento da covid-19 é muito mutante. “É
algo imprevisível e temos que esperar os tempos e como as tendências das curvas
se comportam”, afirmou.
O secretário
municipal de Saúde do Rio de Janeiro, Daniel Soranz, disse que, por enquanto,
não há previsão de alterar as medidas restritivas e que a principal
recomendação para eventos é a cobrança do passaporte sanitário. Soranz destacou
que as pessoas precisam ter consciência de que, para ficar juntas no mesmo
local, é necessário que todas estejam devidamente vacinadas. O secretário
reconheceu que isso não vem ocorrendo em alguns eventos, que terminaram com
muitas pessoas infectadas, como nos cruzeiros, que precisaram ser suspensos.
Para Soranz,
o panorama pode mudar, se houver aumento nas internações, por causa da falta de
respeito às regras sanitárias. “Se não forem cumpridas, houver aumento no
número de internações e de casos graves, teremos que mudar as medidas
restritivas na cidade. O que está balizando as medidas restritivas hoje é a
quantidade de internados e de casos graves, que não se alterou, não teve
mudança nesse momento, mas, se houver grande circulação de pessoas não
vacinadas, o cenário pode se alterar rapidamente.”
Soranz
reforçou que é importante os eventos culturais continuarem cumprindo as medidas
sanitárias colocadas: em locais com muita gente, exigir o uso de máscara e a
apresentação do passaporte sanitário.
Próximos
Formula 1
Brasil
Realização
da Fórmula 1 no Brasil não teve impacto epidemiológico, diz Abrape - Florent
Gooden/DPPI/LiveMedia/NurPhoto
Para este
ano, há outros grandes eventos previstos, como o festival Lollapalooza, marcado
para os dias 25, 26 e 27 de março, em São Paulo, e o Rock in Rio, de 2 a 11 de
setembro, no Rio.
O presidente
da Abrape, Doreni Caramori Júnior, disse que, se houver um agravamento do
quadro pandêmico, as restrições não devem ser apenas para o setor. De acordo
com Caramori Júnior, eventos de massa que já foram realizados pelo setor e não
tiveram impactos negativos no quadro epidemiológico, como a Fórmula 1. Para
ele, é preciso avaliar a evolução do quadro, incluindo o número de internações,
de casos graves e de óbitos. Se forem tomadas medidas drásticas, não podem ser
direcionadas só para os eventos, tem que valer para todos os setores que
incentivam o convívio social. “Tem as praias cheias, parques cheios, aeroportos
cheios, shopping centers cheios, supermercados, quer dizer, não tem como
direcionar só para este setor. Seria uma abordagem extremamente
preconceituosa”,disse Caramori à Agência Brasil.
A atenção
aos grandes eventos deve ser a mesma dada a outras atividades, porque o país
ainda está em ambiente de pandemia. Caramoni destacou que o segmento contribui
positivamente quando exige o comprovante de vacinação, pois as pessoas têm mais
um motivo para busca a imunização.
Máscaras
A médica
Isabella Ballalai alertou ainda para o uso das máscaras de tecido e as
cirúrgicas, que segundo ela, não são suficientes para enfrentar a variante
Ômicron.
De acordo
com Isabella, as melhores máscaras são as do tipo N95 ou PFF2. Quem não tiver
condição de comprá-las, deve combinar o uso das de tecido com as cirúrgicas.
Além do uso
correto das máscaras, a médica recomendou a vacinação. “Quem não tomou a
primeira dose, pelo amor de Deus, acorda. A pandemia não acabou.”
Por
Cristina Indio do Brasil – Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro, Edição:
Nádia Franco
Nenhum comentário
Postar um comentário