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SAÚDE - Crime organizado já vê o cigarro eletrônico como fonte alternativa de renda

 SAÚDE - Crime organizado já vê o cigarro eletrônico como fonte alternativa de renda

Apesar de seu comércio ser ilegal no país desde 2009, pelos danos que causam aos consumidores, cigarros eletrônicos são utilizados à revelia da legislação e representam uma fonte de renda alternativa para grupos criminosos

Dispositivos possuem quantidades variáveis de nicotina e outras substâncias tóxicas

Vistos por muitos como alternativas saudáveis ao cigarro, os vapes e pods têm ganhado popularidade, especialmente entre os jovens, com seu uso se tornando cada vez mais comum. Além de o comércio de cigarros eletrônicos ser ilegal, eles não são regularizados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o que coloca a saúde de seus usuários em risco.

Os dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs), denominação dos cigarros eletrônicos, têm a comercialização, importação e propaganda proibidas no Brasil desde 2009. Sua venda é categorizada pela Justiça como contrabando, crime com pena de dois a cinco anos de reclusão. A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) informa que foram apreendidos 458 cigarros eletrônicos contrabandeados no DF em 2024 até o mês de maio (último dado disponível), número maior do que os 347 recolhidos no ano passado.

De acordo com Renato Lucena, Chefe do Núcleo de Operações Especiais da superintendência da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no DF, o crime organizado já vislumbrou o cigarro eletrônico como fonte alternativa de renda. A compra ilegal destes itens pode, portanto, impulsionar as operações dessas organizações criminosas que fazem o contrabando de vapes e pods.

Cuidados

O oncologista Caio Neves, da Oncoclínicas Brasília, explica que inicialmente o cigarro eletrônico veio com uma ideia de substituir o cigarro convencional, com a promessa de que seria menos tóxico do que ele. Mas o médico afirma que isso é apenas um mito. Ele afirma que os vapes e pods são altamente ricos em nicotina, e por isso também causam o vício.

Apesar disso, ele afirma que não se sabe ainda exatamente o risco desses produtos, por sua introdução recente no Brasil. "Não temos estudos relacionados ao cigarro eletrônico e o desenvolvimento de câncer, porque é um hábito recente, a gente vai colher os dados disso no futuro. Mas a gente sabe comprovadamente que o cigarro eletrônico pode causar inúmeros outros malefícios", explica o oncologista.

Ele cita como exemplo a EVALI (injúria pulmonar aguda), que causa uma inflamação severa nos pulmões, muitas vezes necessitando de recuperação em centros de terapia intensiva e UTI, além de causar inúmeros danos a outros órgãos, como doença artéria esclerótica, problemas coronários e cardíacos.

Dificuldades

Um dos jovens afetados pelos perigos da nicotina foi Nicolas Castelo Branco, de 24 anos. Hoje empresário no ramo da tecnologia, ele luta contra a dependência aos pods após ter conseguido passar um período afastado. O uso dos cigarros eletrônicos vem desde 2018, quando trocou o tabaco que fumava pela opção que achava ser mais limpa e saudável, decisão da qual se arrepende.

"Eu passei a sentir efeitos negativos na minha saúde no ano passado. Às vezes, uma tosse mais forte, às vezes, quando espirrava, sentia umas pontadas no pulmão, um baixo rendimento cardiorrespiratório nos treinos. Por isso eu tomei a decisão de parar em dezembro, comecei um tratamento e consegui parar efetivamente no dia 12/3/2024", relata o empresário.

Ele conta que passou aproximadamente quatro meses longe do produto, o que aliviou sua ansiedade e melhorou diversos aspectos de sua saúde. Porém, em um momento de maior estresse no trabalho, sofreu uma recaída e hoje tenta parar de novo. O jovem explica que o vício se infiltra aos poucos na rotina das pessoas, dificultando a realização de atividades comuns. Por isso, ele hoje aconselha para aqueles que começaram a fumar recentemente que parem enquanto ainda conseguem.

Assim como Nicolas, Ane Caroline Oliveira vem encontrando dificuldades para largar de vez a dependência. Com aversão aos métodos tradicionais de fumo como o cigarro branco, a estudante de 22 anos buscou os vaporizadores para controlar sua ansiedade há cerca de três anos. Apesar de jovem, ela relata dificuldades com o fôlego, tendo sentido mais cansaço recentemente com o aumento do uso.

Ane Caroline foi convencida a parar a conselho de um médico quando precisou fazer uma cirurgia no fim de junho, mas voltou a fumar recentemente. Além dos problemas de saúde, ela destaca os prejuízos financeiros que o vício traz. "Você acaba gastando duas vezes no mês ou até mais, dependendo se você fuma muito. É um dinheiro que você poderia estar usando para outra coisa, aproveitando, guardando para fazer uma viagem ou até saindo com amigos. A dependência é muito ruim porque você não tem controle sobre isso", diz a estudante.

Propaganda enganosa

A popularidade desses DEFs se dá, em boa parte, pela noção de que seriam alternativas mais saudáveis ao cigarro tradicional. É comum se espalhar a informação falsa de que esses equipamentos não teriam nicotina. O Instituto Nacional de Câncer (INCA), entretanto, afirma que eles possuem quantidades variáveis de nicotina e outras substâncias tóxicas, tornando suas emissões prejudiciais tanto para quem faz o uso direto quanto para quem é exposto aos aerossóis.

"Os dispositivos eletrônicos para fumar contêm nicotina, que causa dependência, outras substâncias tóxicas como o propilenoglicol, o glicerol e substâncias cancerígenas. Tais produtos causam danos sociais, à saúde e ao meio ambiente", ressalta a chefe da Divisão de Controle do Tabagismo e Outros Fatores de Risco do INCA, Maria José Domingues da Silva Giongo.

Por conta da ilegalidade da chegada desses produtos ao país pelas fronteiras, não existe uma necessidade de descrição exata das substâncias presentes nos rótulos das embalagens. Com isso em mente, a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e a Polícia Científica de SC (PCISC) realizaram uma pesquisa e encontraram em três marcas circulando no país amostras de octodrina, droga que fortifica o vício em quem a consome.

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*Fonte: Henrique Sucena/Correio Braziliense - Estagiário sob a supervisão de Eduardo Pinho - Foto: Lindsay Fox por Pixabay

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