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Coluna Textos & Textos : PANAPANÃ

Por Geraldo Lima
É panapanã! – exclamou meu filho, olhando através do vidro da janela.
Panapanã? – indaguei, sem atinar com o sentido da coisa.
É, pai, panapanã é o coletivo de borboleta – esclareceu-me ele, sem arredar os olhos do bando de borboletas migratórias.
Com tantos coletivos para memorizar, fui me esquecer exatamente deste: panapanã! Ou panapaná, como prefere o Aurélio. Mas há controvérsias: para alguns esse termo não designa exatamente o coletivo de borboleta, sendo apenas um termo de origem indígena (tupi-guarani) que nomeia uma grande quantidade de borboletas em processo de migração. Que seja assim. Porém, melhor do que perder tempo com essa discussão é ganhar o dia em frente à janela assistindo a mais um espetáculo da natureza.
E que espetáculo!
Ficamos ali, pai, mãe e filho, arrebatados pelo desfile das borboletas amarelas. Algo raro de se ver em meio à agitação urbana. Uma imagem capaz de nos afastar da rotina e nos mergulhar na fantasia e no sonho.
A manhã de domingo estava começando com um espetáculo de tirar o fôlego, algo digno de ser apresentado no Fantástico mais à noite. No caso, as borboletas amarelas que brotavam de todos os lados, que surgiam às centenas, aos milhares!, como se um mágico sacasse da cartola aquela infinidade de lepidópteros. Algumas duplas passavam rente à nossa janela, outras iam longe, num voo cheio de ziguezagues. Iam em direção ao leste. Para onde, exatamente? Talvez até algum rio próximo a Planaltina. Mas quem sabe o seu destino estivesse a quilômetros daqui, em Minas Gerais, por exemplo. Há espécies de borboletas que voam longe, quilômetros e quilômetros até chegarem aos locais de recolhimento. É o caso da monarca da América do Norte. Ela voa até 4.830 km, do Norte para o Sul, no outono, para chegar ao local onde passará o inverno. Voam 2000 milhas do Canadá ao centro do México. E se preciso for, vão mais longe ainda.
Olhando assim, esses seres tão frágeis, parece impossível que sejam capazes de aventura tão radical, mas é a mais pura verdade. Creditemos isso aos muitos mistérios da Mãe Natureza que escapam à nossa compreensão, por mais que nos cerquemos de ciência e arrogância.

Geraldo Lima é autor dos livros A noite dos vagalumes (contos, Prêmio Bolsa Brasília de Produção Literária, FCDF), Baque (contos, LGE Editora/FAC), Nuvem muda a todo instante (infantil, LGE Editora) e UM (romance, LGE Editora/FAC). No dia 08 de dezembro, às 20 horas, será feita a leitura dramática da sua peça de teatro Trinta gatos e um cão envenenado, na Sala Cássia Eller, pela 5ª Mostra de Dramaturgia de Brasília. Blog: baque-blogdogeraldolima.blogspot.com

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