CIDADE URBITÁ / SOBRADINHO / REGIÃO NORTE DO DF
Especialistas alertam para necessidade de monitorar projeto da Cidade Urbitá
Mesmo com licença ambiental e aprovação do Conplan, novo empreendimento
a ser erguido na região de Sobradinho deve evitar o desvirtuamento do projeto
original. Especialistas alertam para a necessidade de monitoramento por parte
do governo
O projeto da Cidade Urbitá prevê espaço para 118 mil pessoas. A iniciativa será erguida na antiga Fazenda Paranoazinho, entre Sobradinho e Grande Colorado |
Para que a criação de uma cidade no Distrito
Federal não agrave os problemas urbanos que atormentam os brasilienses, é
preciso que haja, além de planejamento, monitoramento na execução da
iniciativa. Como o Conselho de Planejamento Territorial e Urbano do DF
(Conplan) aprovou o projeto da Cidade Urbitá, um empreendimento próximo a
Sobradinho com capacidade para abrigar 118 mil pessoas. Para especialistas, é
salutar que o crescimento da capital seja planejado e previamente estudado. Mas
eles alertam para a necessidade de fiscalização do governo e da sociedade civil
para que não haja desvirtuamento. Eles defendem, ainda, a exigência de obras de
infraestrutura prévias para evitar problemas de trânsito e minimizar o risco do
surgimento de outra cidade-dormitório.
A Urbitá será criada na área da antiga Fazenda
Paranoazinho, entre Sobradinho e Grande Colorado. O plano urbanístico geral da
cidade teve o aval do Conplan em novembro e, na última quarta-feira, os
conselheiros do colegiado aprovaram o detalhamento da primeira etapa, que prevê
11 mil moradores. Como a área tem licença ambiental, é possível o registro em
cartório do loteamento, como autorizado pelo Conplan.
Além disso, a iniciativa deverá levar em conta o
trânsito saturado na área, com congestionamentos frequentes na BR-020,
principalmente na subida do Colorado. A obra do Trevo de Triagem Norte, que
prevê a duplicação da Ponte do Bragueto e um complexo de viadutos para aliviar
o tráfego, foi concebida sem levar em conta esse adensamento.
Ainda assim, a perspectiva de implementação do
empreendimento, desenvolvido de forma reservada na última década pela
Urbanizadora Paranoazinho, é bem-vista pelo setor produtivo de Brasília. A
empresa dona da área pretende fazer parceria com empresas do segmento da
construção civil do DF para tirar a iniciativa do papel. A exigência é de que
sejam seguidas as diretrizes urbanísticas e arquitetônicas idealizadas pela
equipe, que incluem interação com espaço público, fachadas ativas e a
construção de prédios de até 10 andares.
O presidente do Sindicato da Indústria da
Construção Civil, João Carlos Pimenta, está otimista com a criação da cidade.
“Um empreendimento privado dessa dimensão é algo inédito. Foram feitos estudos,
como os de impacto de trânsito, que mostraram a viabilidade. Trazer novos
negócios é algo importante para a categoria e para a geração de empregos no
Distrito Federal”, explica Pimenta. Segundo a Urbanizadora Paranoazinho, a
empreitada pode gerar um investimento inicial de R$ 300 milhões, além de gerar
2,5 mil empregos diretos.
O geógrafo Aldo Paviani, professor emérito da
Universidade de Brasília (UnB) e diretor de Estudos Urbanos e Ambientais da
Codeplan, participou da discussão sobre o projeto no Conplan e votou favorável
à proposta. Mas ele lembra que é preciso evitar desvirtuamentos na execução,
“para que não surja uma nova Águas Claras”. O bairro localizado ao lado de
Taguatinga foi concebido para ter edifícios de até 12 andares, mas, nos anos
1990, houve pressão do setor imobiliário, e a Câmara Legislativa aprovou a
alteração de gabarito para liberar empreendimentos de até 36 pavimentos.
“Esse projeto (Urbitá) foi criteriosamente estudado
pelo Conplan, que tem uma equipe competente. Teve aval da Companhia de
Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb), da Novacap, da Companhia
Energética de Brasília (CEB) e recebeu licenças ambientais. Mas frisei bastante
a necessidade de que esta seja uma cidade completa, para que as pessoas possam
trabalhar e morar no mesmo lugar, evitando o surgimento de uma
cidade-dormitório. Hoje, o Plano Piloto reúne 43% das oportunidades de emprego,
com os melhores salários”, argumenta Paviani. Para o professor emérito da UnB,
a consolidação do empreendimento também deve observar questões ambientais. “Os
cursos d’água da região têm de ser preservados”, acrescenta.
"Frisei bastante a necessidade de que esta seja uma cidade
completa, para que as pessoas possam trabalhar e morar no mesmo lugar, evitando
o surgimento de uma cidade-dormitório" Aldo Paviani, geógrafo, professor
emérito da UnB e diretor da Codeplan - (foto: Ed Alves/CB/D.A Press - 12/11/15 )
Abastecimento
A CEB informou que poderá fornecer energia elétrica
ao parcelamento, e a Novacap frisou a necessidade de elaboração de um projeto
de drenagem específico para o local, com a construção de bacias de contenção. O
projeto da Cidade Urbitá prevê uma etapa preliminar de abastecimento por poços
profundos. A área ocupada na primeira etapa aprovada do projeto tem de ser
compatível com a produção de água do sistema de abastecimento atual. Quando o
sistema do Paranoá entrar em operação, será possível ampliar aos poucos a
ocupação do empreendimento.
A proposta inclui a construção de dois
reservatórios, com capacidade de armazenamento de 1,5 mil metros cúbicos, além
de uma estação de tratamento de esgoto. O lançamento dos efluentes tratados
será feito no Ribeirão Sobradinho, próximo à área de confluência com o Córrego
Capão Grande. A Adasa concedeu outorga prévia à Urbanizadora Paranoazinho para
a perfuração de 10 a 12 poços.
Com o racionamento de água encerrado há apenas seis
meses, a crise hídrica é um ponto a ser observado diante do surgimento de uma
cidade. Professora do Departamento de Geografia da UnB, Marília Luiza Peluso
lembra que a preocupação com a escassez de água deve ser constante entre os
brasilienses, mas diz que a localidade pode se adequar ao sistema. “A Codeplan
faz uma previsão de que vamos passar de 3 milhões de habitantes em 2030. É
preciso ter espaço para abrigar esses novos moradores e é salutar que esse
crescimento seja planejado, para evitar invasões que surgem e se consolidam sem
nenhum tipo de estudo”, alerta a especialista. “É desejável que haja cidades
planejadas, mas o governo tem de acompanhar esse processo para que a proposta
não seja deturpada”, ressalta Marília.
"É desejável que haja cidades planejadas, mas o governo tem de
acompanhar esse processo para que a proposta não seja deturpada" Marília
Luiza Peluso, professora do Departamento de Geografia da UnB - (foto: Carlos Vieira/CB/D.A Press - 25/7/18 )
Integração
O projeto prevê a construção de uma estação
intermodal, que é um terminal para diferentes tipos de transporte, como ônibus
e BRT. O projeto da área prevê o prolongamento da Avenida Sobradinho e, entre
as medidas mitigadoras, está a construção de uma ponte sobre o Ribeirão
Sobradinho.
Estimativa
A Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios
(Pdad) 2018 apresentou um diagnóstico demográfico, social, econômico e urbano
do DF. Com dados coletados entre 12 de março e 18 de outubro, o estudo ocorreu
em 28.720 domicílios, de um universo de 928 mil, nas 31 regiões
administrativas. O estudo prevê que a população da capital federal passe dos
atuais 2,9 milhões para 3,4 milhões em 2030 — aumento de 17,2%.
(*) Por Helena Mader/CB – Fotos /CB
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