SOBRADINHO PERDE SUA PIONEIRA DAS ARTES
Aos 93 anos, morre Madame
Kalil, artista plástica da vanguarda cultural de BrasÃlia
Artista lutava contra quadro demencial e
deixa um legado artÃstico cultural que se destaca como uma rara sÃntese de
expressão histórico-cultural do Brasil
Raimunda
Gomes Kalil, M. Kalil ou Madame Kalil, como era popularmente conhecida, artista
plástica de vanguarda do movimento “Ateliê de Portas Abertas”, morreu aos 93
anos, nesta sexta-feira (28). Piauiense de Floriano, aluna do renomado artista
plástico peruano Félix Alejandro Barrenechea Avilez, a artista se instalou em
BrasÃlia na década de 60 e ao longo de sua história se destacou como uma rara
sÃntese de expressão das referências histórico-culturais brasileiras.
Conhecida
como uma artista que nunca se acomodava e nunca estava satisfeita com seu
trabalho, começou a dedicar-se às artes plásticas em 1961. Rapidamente,
destacou-se na pintura, na arte da xilogravura e na gravura em metal, no
inquieto coração da recém-inaugurada Universidade de BrasÃlia. Com um rico e
multifacetado legado que vai de expressões em cerâmica a telas diversas, a
artista realizou inúmeras exposições individuais em galerias renomadas do
Brasil, como a Sala Martins Penna, do Teatro Nacional Cláudio Santoro de
BrasÃlia; no Museu do PiauÃ; na Assembleia Legislativa de Santa Catarina; na
Galeria Aliançarte da Aliança Francesa da Barra da Tijuca, Rio de Janeiro; entre
inúmeras outras que incluem salões nobres do Senado Federal e variados Centros
Culturais de peso da cena artÃstica brasileira.
Participou
de dezenas de exposições coletivas, com destaque para a Third Brazilian Art
Exhibition da Bloomsbury and Dixon Gallery ou, em tradução livre, 3ª Exibição
de Arte Brasileira da Galeria Bloomsbury e Dixon; da Art Exhibition of
Nottingham University, em tradução livre, Exibição de Arte da Universidade de
Nottingham, ambas em Londres; entre tantas outras que cruzam quatro continentes
e os quatro cantos do Brasil. M. Kalil possui várias obras em importantes
coleções do Brasil e do Exterior e foi membro fundadora da Associação de
Artistas-Plásticos do Distrito Federal, além de ser o nome de uma das salas da
Galeria Vincent Van Gogh de Sobradinho, Distrito Federal.
M. Kalil
enfrentava um severo quadro de demência há quase duas décadas e alternava
estados de lucidez (e que lucidez!) com perÃodos de ausência. No começo do
diagnóstico, a artista ainda conseguia produzir, mas conforme a situação foi se
agravando, restou apenas aquela forte e imponente presença que, mesmo distante,
deixava sua marca ao mundo em uma resistência pelas cores. “O meu tempo
acabou”, comentava ela em uma entrevista depois de ouvir duas das filhas
relembrando a época em que a casa vivia cheia de artistas e Madame enchia o
jardim com instalações num tempo em que nem se conhecia esse gênero de obra de
arte no Brasil.
A história
dessa personalidade que escolheu a capital federal como lar e parte da
inspiração de sua arte, é uma trilha de superação que nasce no Governo JK,
passa pela ditadura militar e segue, em luta, até os últimos minutos de sua
vida em que resistia firme, de olhos abertos lutando pelo presente que é viver.
“Uma mulher Ã
frente do tempo que não importava o que ou para que, sempre foi de verdade,
sempre foi o que ela era, doa a quem doer”, diz sua neta sobre a avó. Miúda em
traços fÃsicos, com uma história grandiosa, dizia que a vantagem de envelhecer
era se aperfeiçoar e depurar os sentimentos. Nesses 93 anos de caminhada, a
depuração foi forte, colorida, múltipla e diversa.
“Não sou uma
mulher de letras, mas uma artesã que vem procurando, ao longo dos anos,
expressar-se, correta e inteligivelmente, em linguagem plástica onde a mistura
de cores e sentimentos múltiplos visam despertar a emoção estética daqueles que
se veem à frente dos quadros que produzo”, nos contava do alto de sua lucidez.
O velório de M. Kalil será neste sábado (29), no Cemitério Campo da Esperança,
na Capela 10, às 09h, e o sepultamento às 16h, àqueles que desejarem prestar
suas últimas homenagens.
Informações:
O quê:
Velório e Sepultamento da artista plástica Madame Kalil
Quando: 29
de junho, sábado
Velório: Às
09h Sepultamento: Às 16h
Onde:
Cemitério Campo da Esperança, Capela 10
Fonte : Familiares de M Kalil-Foto: Divulgação
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