SAÚDE
Queda na doação de sangue devido à pandemia preocupa hemocentros
Ministério da Saúde estima redução de 15% a 20%
Preocupados com os níveis dos estoques de sangue e de hemoderivados, hemocentros de diferentes regiões do Brasil estão tentando sensibilizar a população para a importância da doação de sangue
A habitual preocupação com os estoques, principalmente durante o período de festas de fim de ano e férias de verão, este ano foi potencializada pelas mudanças comportamentais impostas pela pandemia da covid-19, que afastou muitos doadores ao longo do ano passado.
O Ministério da Saúde ainda não tem os números
consolidados, mas estima que, em 2020, o medo da doença que, no Brasil, matou
197,7 mil pessoas até essa terça-feira (5), pode ter causado uma
diminuição da ordem de 15% a 20% no total de doações de sangue em comparação a
2019.
No Rio de Janeiro, mesmo com todos os esforços e
campanhas para atrair novos voluntários, o HemoRio (Instituto Estadual de
Hematologia Arthur de Siqueira Cavalcanti) contabilizou uma queda de 4,4% no
número de bolsas de sangue coletadas: foram cerca de 78.400 unidades, em 2020,
contra aproximadamente 82 mil bolsas, em 2019.
Segundo o Ministério da Saúde, não houve registros
de desabastecimento ao longo de 2020. Fato que, segundo representantes de
hemocentros consultados pela reportagem, pode ter ocorrido devido à adoção
de medidas preventivas, como a suspensão temporária de cirurgias eletivas.
Mesmo assim, houve situações em que o ministério precisou acionar o plano
nacional de contingência e transferir milhares de bolsas de sangue de unidades
da Federação em situação mais folgada para outras onde o nível dos estoques era
considerado crítico.
“O principal risco deste cenário seria um possível
desabastecimento de sangue e o consequente comprometimento da assistência”,
informou o ministério em nota enviada à reportagem. O desabastecimento
colocaria em risco a vida de pessoas que precisam receber transfusão de sangue
ao serem submetidas a tratamentos, cirurgias e procedimentos médicos complexos,
ou que tratam os efeitos de anemias crônicas, complicações da dengue, da febre
amarela ou de câncer.
Na nota que enviou à reportagem, o ministério
também garantiu que está acompanhando a situação nos maiores hemocentros
estaduais para, se necessário, adotar as medidas que minimizem “o impacto de
eventuais desabastecimentos de sangue”.
“Através das ações e providências já tomadas pelo
ministério, junto com as ações locais realizadas pelos estados, como a
mobilização e sensibilização de doadores e estratégias para a redução do
consumo de sangue, a situação tem se mantido estável”, garantiu a pasta – que
afirma ter investido, em 2020, R$ 1,680 milhão em projetos de ampliação,
reforma e qualificação da rede de sangue e hemoderivados, além da compra de
medicamentos e equipamentos. Em 2019, foram investidos R$ 1,548 milhão.
Amazonas
Após coletar, em 2020, 4,6% menos bolsas de sangue
do que em 2019 (foram 51.800 doações contra 54.300), a Fundação Hospitalar de
Hematologia e Hemoterapia do Amazonas (Hemoam) começou o ano com metade do
volume que considera ideal em termos de estoque.
A maior preocupação é com o volume armazenado de
sangue do tipo O+, que representa cerca de 70% da demanda estadual, e com todos
os de fator RH negativo, menos comuns entre a população brasileira e, portanto,
mais difíceis de obter.
“A pandemia afastou significativamente as pessoas
[dos postos de coleta], principalmente em meados de março, abril e maio [de
2020], quando o estoque caiu cerca de 40%”, informou a Hemoam à reportagem.
“Para dar conta de toda demanda diária, precisamos do comparecimento de 200 a
250 doadores por dia. Ultimamente esse número está na média de 100 doadores”,
acrescentou o órgão em uma mensagem divulgada pelas redes sociais.
Responsável por distribuir sangue para 27 unidades
de saúde públicas e privadas de Manaus e para 42 outras cidades amazonenses, a
fundação tem mais de 500 mil voluntários cadastrados; mas apenas 150 mil dessas
pessoas doam sangue regularmente.
Ceará
Devido às restrições de segurança, como o
distanciamento social, a maioria dos hemocentros do país adotou medidas como o
agendamento prévio de doações, além de reforçarem os cuidados com a higiene dos
postos de coleta de sangue. Ainda assim, o impacto da pandemia se fez sentir.
O Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceará
(Hemoce), por exemplo, recebeu, em 2020, 92.524 doações de sangue, enquanto, em
2019, foram coletadas 101.066 bolsas de sangue. O Hemoce garante que o menor
número de doadores em função da pandemia não chegou a comprometer o atendimento
das cerca de 480 unidades de saúde cearenses, e que chegou até mesmo a fornecer
bolsas de sangue para outros estados, como Minas Gerais, Paraná, São Paulo e
Sergipe.
Embora, atualmente, os estoques se encontrem dentro
do que o centro classifica como “margem de segurança” para atendimento, o
Hemoce segue usando as redes sociais para incentivar as doações.
Distrito Federal
No Distrito Federal, os níveis dos estoques da
Fundação Hemocentro de Brasília de dois dos oito tipos sanguíneos mais comuns
são considerados críticos. “O ano de 2021 começou com os estoques de O positivo
e O negativo em níveis baixos”, informou o órgão responsável por garantir o
fornecimento de sangue e seus componentes para a rede de saúde pública local. A
quantidade de sangue tipo B- disponível nessa segunda-feira (4) também era
considerada baixa.
Segundo a fundação, entre janeiro e dezembro de
2020, os postos de coleta receberam pouco mais de 47,5 mil doações de sangue.
Menos que as 51 mil doações registradas no mesmo período de 2019. Já
transfusões foram realizadas 72 mil no ano passado, contra 76 mil em 2019.
A fundação afirma ter “estoques estratégicos” para
abastecer toda a rede pública e os hospitais conveniados do Distrito Federal
por até sete dias, dependendo do hemocomponente (hemácia, plasma ou plaqueta)
em caso de falta de doadores.
São Paulo
Vinculada ao Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e responsável por abastecer a mais
de 100 instituições de saúde da rede pública paulista, a Fundação Pró-Sangue
coletou, em 2020, 108.707 bolsas de sangue. O resultado é não só inferior ao
registrado em 2019, quando foram coletadas 114.050 bolsas, como mantém a
tendência de queda dos últimos cinco anos.
Ano |
Coleta de bolsas
de sangue (Fundação Pró-Sangue) |
2015 |
131.068 |
2016 |
124.063 |
2017 |
123.851 |
2018 |
118.997 |
2019 |
114.050 |
2020 |
108.707 |
“Os tipos O- e O+ estão sempre críticos”,
acrescentou a Pró-Sangue, em nota em que explica que o sangue do tipo O+ é o
mais demandado, por ser o mais comum entre a população brasileira e compatível
com todos os outros tipos positivos. Já o O-, além de menos comum, é muito
usado em atendimentos médicos emergenciais por ser compatível com outros tipos
sanguíneos, independente de serem positivos ou negativos.
Segurança
O Ministério da Saúde garante que os hemocentros de
todo o país estão preparados para receber os doadores com segurança, sem
aglomerações, e em conformidade com as recomendações das autoridades
sanitárias. A maioria, senão a totalidade dos postos de coleta, está
funcionando com atendimento pré-agendado, de maneira que vale a pena o
interessado consultar, na internet, a página ou as redes sociais do hemocentro
do estado em que reside.
Para doar, o candidato tem que ter entre 16 e 69
anos de idade - menores de 18 anos precisam do consentimento formal dos
responsáveis. O voluntário deve pesar mais que 50 kg e apresentar-se munido de
documento oficial com foto. Pessoas com febre, gripe ou resfriado, diarreia
recente, grávidas e mulheres no pós-parto não podem doar temporariamente.
O procedimento para doação de sangue é simples,
rápido e totalmente seguro. Não há riscos para o doador, porque nenhum material
usado na coleta do sangue é reutilizado, o que elimina qualquer possibilidade
de contaminação.
Cada voluntário pode doar sangue até quatro vezes
ao ano, no caso de homens, e três vezes caso se trate de uma mulher, com
intervalos mínimos de, respectivamente, dois e três meses. Para checar outras
restrições, recomendações e informações, acesse a página do Ministério da Saúde.
Por Alex Rodrigues - Repórter da Agência Brasil – Brasília, Edição: Fábio Massalli
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